Atilio Faoro
arece mentira, mas é a realidade que desponta na análise das estatíticas: o casamento está virando moda na França.
A notícia foi estampada com destaque pelo conhecido jornal “Le Figaro” (23/6/2010) com o título: “Os casais enfrentam a crise, casando-se”. Numerosos analistas, sociólogos, psicólogos e outros filósofos se disputam para entender “a perenidade” dessa instituição, comenta o jornal.
Desfilando detalhadas estatísticas e reproduzindo os comentários de especialistas em relações conjugais e em assuntos familiares, o jornal reconhece que a instituição do casamento, apesar do número de divórcios, “tem ainda o mais alto prestígio” na França.
Desde a Revolução de maio de 1968, tudo se fez para liquidar com o casamento e implantar o amor livre. E muita coisa avançou nesta direção com a implantação do divórcio e recentemente do “pacto social” conhecido como “PACS”, que equivale a um casamento civil com menos formalidade e mais facilidade de dissolução, muito usado na França mesmo para as uniões heterossexuais (95% dos casos). É preciso acrescentar que uma grande parte dos casamentos são apenas no civil, não são celebrados na Igreja.
Apesar disso, a tendência atual – indicam as estatísticas – levam os jovens franceses a quererem casar-se. “O casamento mantém-se o grande evento de nossa vida” e as separações “são vividas como uma tragédia”, comenta Agnès Vedrine, psicóloga especializada em relações conjugais.
Os números também mostram que os jovens pensam num casamento duradouro. Segundo uma enquete de opinião do Instituto CSA, o sentimento de “para sempre” está presente em 80% dos franceses entre 18 e 35 anos, para os quais “a união deve durar toda a vida”. Para os psicólogos, os casais jovens sabem quais são as dificuldades do casamento, mas se lançam “com toda a confiança na aventura”. São os filhos dos casais divorciados que, “chegados à idade de contrair o matrimônio”, querem fazer um “ato de reparação conquistando sucesso onde seus pais fracassaram”.
A crise do mundo atual tem também um peso muito grande, segundo os analistas e estudiosos. “Num mundo onde tudo tornou-se precário e efêmero, o casamento faz figura de valor de refúgio”, comenta François de Singly, sociologo especialista de família. E continua: “Observa-se que, quanto mais um país está em crise, mais casamentos se realizam”.
Há “uma necessidade de possuir e de ter segurança”, sustenta Singly. Os candidatos ao casamento de hoje teriam um sentimento análogo aos dos “proprietários”, mas “na alma”. O que explica também o baby-boom vivido hoje na França: “a criança seria a única certeza num mundo de incertezas”.
O fato concreto é que os franceses acumulam dois recordes em matéria de vida familiar: optam cada vez em maior número pelo casamento e são os campeões na fecundidade na Europa, com mais de dois filhos por mulher em média, contra apenas 1,5 dos outros países da União.
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