quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Sacerdotes “cantores” surpreendem mercado fonográfico brasileiro.

Apontada como um sucesso de gênero, a música católica arrasta multidões e consolida uma mudança do gosto musical do brasileiro.
Segundo a Associação Brasileira dos Produtores de Discos (ABPD), o estilo musical que teve sua alvorada nos anos 70 com o Padre Zezinho, caiu definitivamente no gosto dos brasileiros, que até bem pouco tempo torciam o nariz para o gênero, que chega agora ao seu apogeu, encabeçado principalmente pelo Padre Fábio de Melo, cujos álbuns vêm se sucedendo no topo dos mais vendidos do País.


Para se ter uma ideia do sucesso da música católica, o Padre Fábio de Melo, que já havia abocanhado o primeiro lugar em número de álbuns vendidos em 2008 com o CD Vida pela som Livre, emplacou quatro títulos no top 20 dos CDs mais vendidos de 2009.

Somente com Vida e Eu e o tempo, lançados em 2009, foram vendidas 1,6 milhões de cópias - números que despertariam um dos pecados capitais – a inveja – em muitos artistas consagrados da MPB.

Assim como Fábio de Melo, a estimativa é de que cerca de 2,5 mil bandas católicas procuram um lugar ao sol da indústria fonográfica brasileira. Ao ano, são mais de 500 CDs religiosos lançados pelas gravadoras e em produções independentes.
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Os números refletem a mudança no gosto musical do brasileiro. Diferentemente do que acontecia há 20 anos, quando muitos podiam não gostar se um sacerdote ousasse dividir o palco com grandes ícones da MPB, hoje, os cantores católicos e gospels são convidados a participar de shows e chegam a até ser a “estrela” principal de alguns eventos. Assim, o CD Iluminar é repleto de participações especiais, como Elba Ramalho, André Leono, Zezé di Camargo e Luciano.

Um exemplo disso foi vivido pelo Padre Reginaldo Manzotti, um dos ícones da música católica, quando ele contou com a participação do grupo Exaltasamba – um dos mais populares grupos de pagode do País – na gravação do DVD ao vivo diante de mais e 20 mil pessoas em um estádio de futebol.

“Hoje é clara essa mudança de mentalidade, que há 20 anos não havia. Nas minhas celebrações e eventos eu vejo jovens que não tem vergonha de cantar as músicas católicas e as cantam como qualquer outro estilo musical”, afirma.

Com uma média de 50 mil pessoas por show, Manzotti vê a música como um instrumento para atrair a juventude para a Igreja. “A música, que é uma linguagem universal, funciona como uma seta que vai direto no coração. E a música, com conteúdo, ela agrega e atrai, principalmente a juventude”, afirma.

Manzotti ressalta que a mensagem da Igreja é amplificada pelas mais diversas expressões midiáticas. Somente o programa de Manzotti é transmitido por 642 emissoras de rádio e por 166 canais de televisão. Já o site do padre na internet vem registrando números superiores a 400 mil acessos por mês.

Para Manzotti, o sucesso das expressões artísticas da Igreja Católica no Brasil revela que a instituição compreendeu a necessidade do uso da mídia para evangelizar.

“Dá para perceber que as pessoas estão necessitadas de Deus. E se a Igreja ficar pregando para os que estão dentro da igreja, esta não será uma forma de evangelização suficiente. A grande catedral hoje se chama microfone”, afirma.

Outra possível explicação para o estrondoso sucesso dos padres cantores é o atual estágio da música brasileira, que, segundo Reginaldo Manzotti, “está passando por um momento terrível de qualidade”.

Para o padre, as rádios estão reproduzindo músicas que se caracterizam por apelos comerciais. Ele acredita que o grande público anseia por produtos culturais mais refinados. “São raras as músicas que tocam uma boa MPB. O famoso jabá ainda persiste e prejudica a qualidade da música”, conclui.

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