quinta-feira, 7 de outubro de 2010

”Sempre fui um simples professor”. A nova biografia de Ratzinger.”Sempre fui um simples professor”. A nova biografia de Ratzinger.

Não fuma, não bebe e precisa dormir muitas horas à noite. É rotineiro, tímido e, antes de chegar a ser o líder da Igreja Católica, viajava em classe econômica. Nunca teve entre suas metas cargos de poder, e sua maior aspiração era poder escrever algum dia uma grande obra teológica. Seu pai era policial rural, e sua mãe sempre gostou de cozinhar. Entre suas sobremesas preferidas, o Papa sempre lembra a torta de maçã ou o Kaisserschmarrn, um doce típico austríaco.

Apesar de ser muito diferente de João Paulo II, entenderam-se muito bem desde o começo e logo passou a ser seu amigo de confiança, seu suporte e, anos depois, seu sucessor. Mas podemos saber quem, na realidade, é Joseph Ratzinger?

Essa incógnita, compartilhada por milhares de fiéis em todo o mundo, converteu-se em um grande desafio para Pablo Blanco Sarto, um jovem sacerdote que dá aulas de teologia naUniversidade de Navarra.

Em seu último livro, “Benedicto XVI. El Papa alemán” (Editora Planeta), que será publicado no próximo dia 6 de outubro, a poucas semanas da peregrinação do Santo Padre paraSantiago de Compostela e de sua visita aBarcelona para consagrar o templo daSagrada Família, Blanco propõe, por meio de uma leitura amena e dinâmica, abordar “a partir da sintonia e da simpatia” o pensamento e também a história pessoal do Santo Padre.

“O melhor modo de conhecer uma pessoa – assinala – é sintonizar com ela, não ter um olhar sem misericórdia, mas sim próximo. Eu me dediquei a estudar o pensamento de Ratzinger e acredito que consegui entender o que há dentro da sua cabeça, sua visão dos problemas da Igreja e do mundo”.

Depois de dez anos de trabalho e de conhecer em primeira mão os lugares onde o Papa nasceu, estudou e passou grande parte de sua vida, esse professor oferece uma biografia feita com os melhores trechos da ampla documentação e testemunhos que existem sobre a personalidade e das ideias de Joseph Ratzinger, entre as que também se incluem as impressões e as recordações do próprio Pontífice por meio de alguns de seus escritos mais pessoais.

Como um gigante quebra-cabeças, o autor conseguiu ordenar as peças com grande pedagogia e equanimidade. “Onde há mais informação e documentação – explica – é justamente na primeira época de sua vida. Conforme vamos nos aproximando dos nossos dias, há mais volume de informação, mas menos confirmadas. Você precisa selecioná-la muito melhor, ver o que se enquadra com o personagem daquilo que é puro comentário, louvor ou crítica sem mais. Tentei armar o quebra-cabeças com as peças que eu ia tendo, seguindo esse fio condutor que é conhecer a personalidade, as ideias de Joseph Ratzinger, isto é, o personagem com seus contrastes, suas luzes e suas sombras”. O resultado é, sem dúvida, interessante.

Entre as experiências mais surpreendentes de seus anos de pesquisa, o autor destaca a marca que o nazismo deixou na sociedade alemã e no próprio Santo Padre. “Descobrir a tragédia profunda que os alemães têm com esse tema e a tarefa de oposição e de luta que o cristianismo teve diante do nazismo – aponta – foi muito interessante”. O caso da família de Ratzinger foi, além disso, “clamoroso”, acrescenta.

No relato, Blanco recupera uma recordação familiar do Papa daquela época: “Mais adiante, se alojaram em nossa casa dois membros das SS (…). Meu pai não pôde evitar de verter sobre eles toda a sua ira contra Hitler, o que equivaleria normalmente a uma condenação à morte. Mas parecia que um anjo da guarda velava por nós, pois ambos desapareceram no dia seguinte, sem causar-nos desgraça alguma”.

O livro recolhe também momentos mais doces como os passeios com sua mãe durante os verões, a vida familiar simples ou os dias no seminário menor nos quais ele se dava melhor nos livros do que no futebol.

“Estavam previstas todos os dias duas horas de esporte no enorme campo de esportes da casa. Essa circunstância chegou a ser para mim uma verdadeira tortura, já que não sou aquilo que se diz como especialmente dotado para o esporte. Tenho que dizer, não obstante, que meus companheiros eram muito tolerantes comigo”.

Dos primeiros passos daquilo que seria uma imparável carreira eclesial, o autor resgata o dia de sua ordenação sacerdotal, “o mais importante de sua vida”, em junho de 1951, ou sua incorporação à Cúria Vaticana quando foi criado cardeal por Paulo VI.

“Eu havia sido durante tantos anos um simples professor, muito afastado da hierarquia da Igreja, e não sabia como me comportar e me sentia pouco à vontade naquele ambiente. Apesar de me sentir muito pouca coisa, o Papa foi muito bom e me animou”.


ACI

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