Queridos membros da Academia,
apraz-me cumprimentar-vos no início de vossa XVI Sessão Plenária, que é dedicada a uma análise da crise econômica global à luz dos princípios éticos consagrados na Doutrina Social da Igreja. Agradeço a vossa presidenta, professora Mary Ann Glendon, por suas corteses palavras de saudação e ofereço-vos meus sinceros bons votos para a fecundidade de suas deliberações.
A quebra do sistema financeiro mundial, como sabemos, demonstrou a fragilidade do atual sistema econômico e das instituições a ele ligados. Isso também mostrou o erro do pressuposto de que o mercado é capaz de autorregular-se, para além da intervenção pública e o apoio de padrões morais internalizados. Tal suposição é baseada em uma noção empobrecida da vida econômica como uma espécie de mecanismo de auto-calibração conduzido por interesses próprios e fins lucrativos. Dessa forma, negligencia a natureza essencialmente ética da economia como uma atividade de e para os seres humanos. Mais que uma espiral de produção e consumo, em vista de necessidades humanas estritamente definidas, a vida econômica deve ser corretamente vista como um exercício de responsabilidade humana, intrinsecamente orientada para a promoção da dignidade da pessoa, a busca do bem comum e do desenvolvimento integral - político, cultural e espiritual - dos indivíduos, famílias e sociedades. Uma apreciação desta dimensão humana exige, por sua vez, precisamente o tipo de investigação interdisciplinar e reflexão com que a presente sessão da Academia se compromete.
Na minha Encíclica Caritas in Veritate, observei que "a crise atual obriga-nos a projetar de novo o nosso caminho, a impor-nos regras novas e encontrar novas formas de compromisso" (n. 21). Replanejar o caminho, é claro, também significa olhar para os padrões compreensivos e objetivos que permitem avaliar as estruturas, instituições e decisões concretas que guiam e direcionam a vida econômica. A Igreja, baseada em sua fé em Deus o Criador, afirma a existência de uma lei universal natural que é a fonte última desses critérios (cf. Caritas in Veritate, 59). No entanto, ela também está convencido de que os princípios dessa ordem ética, inscrita na própria criação, são acessíveis à razão humana e, como tal, devem ser adotados como base para decisões práticas. Como parte do grande patrimônio da sabedoria humana, a lei moral natural, que a Igreja apropriou, purificada e desenvolvida à luz da revelação Cristã, serve como um farol guiando os esforços de indivíduos e comunidades para exercer o bem e evitar o mal, enquanto direcionam seus compromissos para construir autenticamente uma sociedade justa e humana.
Entre os princípios indispensáveis que moldam essa abordagem ética integral da vida econômica deve estar a promoção do bem comum, baseada no respeito pela dignidade da pessoa humana e reconhecê-la como o objetivo principal dos sistemas de produção e comércio, instituições políticas e bem-estar social. Em nossos dias, a preocupação com o bem comum tem assumido uma dimensão cada vez mais marcadamente global. Isso também tornou cada vez mais evidente que o bem comum envolve a responsabilidade perante as gerações futuras; a solidariedade intergeracional deve passar a ser reconhecida como um critério ético fundamental para julgar qualquer sistema social. Essas realidades apopntam para a urgência de reforçar os procedimentos de governança da economia global, embora com o devido respeito pelo princípio da subsidiariedade. No final, porém, todas as decisões econômicas e políticas devem ser orientadas para a "caridade na verdade", na medida em que a verdade preserva e canaliza o poder libertador da caridade em meio às sempre contingentes estruturas e acontecimentos humanos. Pois "sem verdade, sem confiança e amor pelo que é verdadeiro, não há consciência e responsabilidade social, e a ação social fica à mercê de interesses privados e lógicas de poder, com efeitos desagregadores na sociedade" (Caritas in Veritate, 5).
Com essas considerações, queridos amigos, novamente expresso minha confiança de que esta Sessão Plenária contribuirá para um discernimento mais profundo dos sérios desafios sociais e econômicos que enfrenta o nosso mundo e ajudará a apontar o caminho a seguir para enfrentar esses desafios em um espírito de sabedoria, justiça e autêntica humanidade. Garanto-vos mais uma vez as minhas orações por vosso importante trabalho, e sobre vós e seus entes queridos invoco cordialmente as Bênçãos divinas de alegria e paz.
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