segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Franz pode se tornar 1º santo dos presidiários

Angélica Arieira
Fiéis acompanham celebração em homenagem a Holzwarth e se emocionam ao tocar em restos mortais

Devoção: Fiéis acompanham celebração em homenagem a Holzwarth e se emocionam ao tocar em restos mortais

Angélica Arieira

Barra do Piraí

Uma equipe do Vaticano liderada por Frei Paolo Lombardo esteve em Barra do Piraí, no cemitério Santa Rosa, para a exumação do corpo do advogado Franz de Castro Holzwarth, que pode se tornar o segundo santo brasileiro e o primeiro leigo (sem ordenação). Se considerado santo, a Igreja Católica garante que será o primeiro cuja causa será a proteção aos presidiários.

O processo de abertura do mausoléu e o translado foram uma exigência do Vaticano e do tribunal eclesiástico formado para análise do caso. A Igreja pede que os restos mortais de postulantes a santos sejam enterrados em locais de fácil acesso à população. Como o processo de canonização de Franz foi aberto pela Diocese de São José dos Campos (SP), onde Holzwarth passou parte de sua vida, os ossos serão sepultados na Igreja Matriz de São José, onde ficarão disponíveis à visitação dos fiéis.

Todo o processo de exumação foi acompanhado por parentes de Holzwarth e também por dezenas de fieis que, ou conheceram o advogado e sua família, ou ficaram sabendo da história de vida do possível mártir.

- Franz sempre foi um homem generoso e não mediu esforços para se colocar em lugar daquele pai de família que substituiu na rebelião. Ele deu sua vida por aquele homem naquele motim. Se um dia pensamos que o tínhamos perdido, hoje temos a certeza que só o ganhamos. É um orgulho ter sido parente deste homem que desde sua infância mostrava a bondade em suas ações - disse Peter Paulo de Castro Holzwarth, irmão de Franz, que revelou ainda que Franz chegou a fazer o seminário, mas não chegou ser ordenado padre.

As irmãs de Franz, Sônia Maria Holzwarth e Ruth Maria Holzwarth Irineu de Souza, contaram um pouco da infância de Franz que, segundo elas, foi a de um garoto comum, mas sempre muito ligado à caridade e amor ao próximo.

- Quando fui entrevistada pelo Vaticano o que eles perguntaram foi como foi a infância de meu irmão e eu fui clara. Franz foi um garoto comum. Lembro de nós dois fazendo arte de criança, mas também de sua bondade e religiosidade. Sempre fomos muito católicos e nossa mãe foi responsável por isso - contou Sonia, que depois de Franz é a filha mais velha dos cinco irmãos.

Ruth Holzwarth lembrou que pouco antes de sua mãe morrer, em março deste ano, ela explicou o que estava acontecendo com o irmão e mesmo já adoentada por conta do Alzheimer a mãe de Franz Holzwarth pronunciou algumas palavras.

- Eu mostrei recortes de jornais e disse à mamãe que era para olhar tudo o que ela tinha ensinado a Franz e ela somente me respondeu que quem havia lhe ensinado algo era ele: o seu filho - contou emocionada.

Processo de beatificação deve levar pelo menos 10 anos

O fato de o vaticano ter reconhecido que o caso de Franz Holzwarth merecia pesquisa, já deu ao advogado o título de "Servo de Deus", que é o primeiro passo até a beatificação. Segundo informou Frei Paolo Lombardo, no próximo dia 22 de dezembro, todo o material documental recolhido de Franz Holzwarth e sua família deverá ser encaminhado ao Vaticano que avaliará a história do advogado e verificará as declarações e documentos que comprovariam que ele teve uma vida de mártir.

- Para se tornar beato, mártir, não é necessário comprovar milagre. O que a equipe eclesiástica formada por nove teólogos irá avaliar serão estes documentos, estas entrevistas o que, de fato, faz deste homem servo de Deus. Sua trajetória de vida pelo bem do próximo - explicou o Frei.

Segundo o representante do Vaticano, que também é representante do postolador de Roma, Paulo Villota, que é o responsável pelo caso junto ao Papa, somente na segunda fase do processo é que será necessária a comprovação de um milagre.

- Depois que conseguir o título de mártir, que é mais rápido, em torno de 10 a 12 anos, é que começa o processo pela santidade, canonização. Aí sim, haverá a necessidade da comprovação de um milagre. Algo que a ciência não pode explicar - afirmou.

Além do processo de Franz de Castro Holzwarth, Frei Paolo Lombardo é responsável pela análise de mais 15 candidatos a santo no Brasil. Ele informou que pelo menos dois mil processos pela santidade estão correndo no Vaticano, com representantes do mundo todo. Depois da beatificação de Irmã Dulce, que deverá ocorrer ano que vem, o processo mais adiantado, segundo ele, pelo Brasil, é de Nhá Chica, que corre pelo Sul de Minas Gerais.

‘Graças' de Franz já começaram a ser analisadas pela Igreja

A notória Regina Célia Araújo, que compõe o Tribunal Eclesiástico formado no Brasil e em Roma para a análise do caso de Franz de Castro Holzwarth, afirmou à imprensa que depois que o processo de beatificação foi aberto, algumas graças atribuídas ao advogado já começaram a aparecer. Regina disse inclusive que estas graças já estão sob análise do Vaticano.

- Algumas graças já chegaram à Diocese de São José dos Campos e já estão sendo analisadas pelo Vaticano. Com certeza elas colaboram para acelerar o processo, assim como a comoção popular - disse ela, que é a oficial que dá fé a todos os documentos recolhidos no processo.

Entre as graças atribuídas a Franz de Castro está a destacada pelo arquiteto Jorge Luiz Paixão Menezes. O morador de Barra do Piraí contou que soube da história de Franz há mais de um ano por uma de suas irmãs e que tomou simpatia pela vida do advogado. No entanto, foi num encontro acidental com uma das irmãs de Franz na rua que sua vida, segundo ele, teria mudado.

- A irmã dele me deu um santinho de Franz e eu comecei a rezar por ele. Não contente, comecei a visitar o túmulo dele todos os meses e pedir por minha filha que sofria de depressão e chegava a ficar tão violeta que me agredia. Pedi ao Franz a graça da cura para ela e hoje ela é outra pessoa. Foi um milagre - disse ele.

Os restos mortais do advogado Franz de Castro Holzwarth foram retirados do mausoléu que ficava no Cemitério Santa Rosa, em Barra do Piraí, e depois de uma breve procissão seguiram para a Igreja Matriz de Sant'Ana onde houve uma celebração. Em seguida, os restos mortais foram levados para São Paulo.

DIARIO DO VALE

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