Zenit
Um comunicado emitido no sábado pela Sala de Imprensa da Santa Sé aborda o tema da divulgação dos documentos secretos por WikiLeaks
“Naturalmente tais informações refletem as percepções e as opiniões dos que as redigiram, e não podem ser consideradas expressão da própria Santa Sé, nem citações precisas das palavras de seus oficiais.”
Portanto, sua credibilidade “deve ser avaliada com reserva e com muita prudência, tendo em conta essa circunstância”, afirma o comunicado vaticano.
Se bem que expoentes de WikiLeaks tivessem anunciado em dias anteriores importantes revelações dos documentos diplomáticos norte-americanos sobre o Papa e o Vaticano, as filtrações não trazem informações novas.
As correspondências apresentam a visão da Igreja e da Santa Sé dos diplomatas norte-americanos, em particular da senhora Julieta Valls Noyes, que durante um tempo foi chefe interina da missão diplomática nessa embaixada.
Entre as “revelações” de WikiLeaks destacam-se a sensibilidade ecológica de Bento XVI ou a consideração de que o Vaticano é um Estado pouco moderno, hierárquico, no qual faltam “vozes dissidentes”.
Afirma-se que o cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado, é um “homem do sim” a serviço do Papa, comentário que, segundo ZENIT apurou nesse domingo em círculos vaticanos, alegrou o próprio Bertone, que considera sua missão precisamente de colaboração e obediência ao Santo Padre.
“Bertone tem um estilo pastoral que o leva frequentemente fora de Roma, a ir pelo mundo, a ocupar-se de problemas espirituais antes que da política exterior e da gestão”, afirma a diplomata norte-americana.
“No Vaticano, o Papa é o responsável último por todas as decisões importantes”, ainda que costume delegar para “aqueles que mais sabem ou melhor informados estão sobre cada matéria particular”, escreve a senhora Valls Noyes em um informe a Washington.
As correspondências insistem nas crises comunicativas que o Vaticano viveu nos últimos tempos e asseguram que as novas tecnologias, em particular os telefones de nova geração, não são muito utilizados entre a Cúria Romana.
Adverte-se que o Papa manifestou no passado perplexidade perante a entrada da Turquia na Europa, e se sublinham as difíceis relações entre o Vaticano e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
Só uma das correspondências não repete tópicos publicados pela imprensa ocidental: no Vaticano, segundo os oficiais norte-americanos, não se fala muito inglês, motivo pelo qual a Cúria Romana não estaria à altura da situação.
L’Osservatore Romano, em sua edição de 12 de dezembro, não fez referência a estas revelações de WikiLeaks. Em sua edição de 4 de dezembro atribuía a publicação dos documentos a um objetivo: “alimentar um cenário que ponha sob pressão as relações diplomáticas entre países”.
“Segundo alguns observadores, dos documentos filtrados por WikiLeaks saem elementos orientados a influenciar em suas dinâmicas no panorama político internacional, ainda que não pareça que este objetivo seja facilmente alcançável. Ao menos até que os documentos em questão fiquem em rumores entre os líderes mundiais”, concluía o jornal vaticano.
Por sua parte, o embaixador dos EUA na Santa Sé, Miguel Humberto Díaz, divulgou no sábado uma nota em que condena “energicamente” a divulgação das correspondências.
“Sem comentar o conteúdo ou a autenticidade de tal informação”, o embaixador norte-americano na Santa Sé, de origem cubana, assegura que sua embaixada “participa com o Vaticano dos esforços para impulsionar o diálogo inter-religioso de forma ativa, pelo bem comum”.
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